PLATÃO E A EDUCAÇÃO

Platão nasceu em Atenas em 427 a.C. e morreu em 347 a.C. Recebeu uma educação clássica, sendo preparado para atuar nos jogos e para a guerra e aprendeu também música e literatura, além de frequentar os sofistas para adquirir as habilidades da retórica, necessárias à participação da vida política na cidade, como era comum aos filhos dos cidadãos livres. Ao se tornar discípulo de Sócrates, Platão começa a questionar a formação aristocrática que recebeu e os modos de vida aos quais se encontrava submetido. 

Na Carta Sétima, escrita em sua maturidade, um dos problemas mais graves vivido por ele estaria relacionado à decadência da política, dos costumes e da educação (Paideia) gregos. Assim como Sócrates, Platão vê na ausência da ciência, da virtude (areté) e da justiça, a causa dos males que degradam a cidade. O próprio Sócrates teria sido vítima dessa carência de verdade, de virtude e de justiça, sendo condenado à morte o homem mais justo de seu tempo. Esse era um dos sinais mais evidentes da decadência grega. Por esse motivo, Platão argumenta que teria se dedicado à verdadeira filosofia e lutado para que os filósofos chegassem ao poder ou para que os governantes começassem a filosofar. 

As respostas tanto ao problema do conhecimento, quanto aos problemas filosóficos, éticos e políticos desse contexto filosófico e histórico parecem ser ensaiadas em um texto bastante conhecido: A República. Esse diálogo permite compreendermos como Platão concebe a filosofia e idealiza o filósofo como educador do Estado e dos cidadãos, conferindo a ele um papel central no funcionamento da cidade ideal, ampliando os ensinamentos de seu mestre e construindo as bases de um pensamento e de uma pedagogia próprios. Com isso, demarca a história da filosofia da educação subsequente, sendo discutidos até hoje, devido a sua influência e repercussão no discurso pedagógico e na atividade do pedagogo/professor. 

Na obra A República, Platão expõe as dificuldades de realização da verdadeira Paideia. Platão fornece-nos uma imagem daquilo que constitui os desafios éticos e políticos que devem ser enfrentados pela Paideia. As discussões são introduzidas com o debate acerca do tema justiça. Chegar ao reconhecimento do que seja o Bom, o Bem, o Belo e o Justo requer uma reeducação do olhar. 

Platão tem consciência de que a reforma moral e política de Atenas requer uma redefinição da Justiça, a qual deve ser inerente à alma, do contrário ela seria apenas um reflexo das variáveis externas e dos interesses políticos particulares. 

Em A República, Platão explicita a teoria da alma (psyché), na qual essa pedagogia se fundamenta, e o ideal de homem virtuoso a ser almejado por ela. Para os artesãos, a qualidade a ser desenvolvida, favorecendo o bom funcionamento da cidade ideal, seria a temperança (sophrósine). Ela bastaria para que os cidadãos pertencentes a esse segmento desenvolvessem a contento a sua atividade e concorressem para o bom funcionamento da cidade ideal. Além da sophrósine que favoreceria os cuidados com o corpo e um maior controle dos movimentos importantes para a atividade militar, os guardiões necessitariam do desenvolvimento da coragem (Thymós) e da prudência (Phrónesis), pois essas virtudes seriam necessárias ao bom desempenho na guerra e à manutenção do bom funcionamento da ordem civil, portanto, uma condição para os cidadãos que fizessem parte desse segmento social. Aos governantes, além dessas duas virtudes, caberia ainda o desenvolvimento da virtude intelectual por natureza, o apreço, a sabedoria e o conhecimento necessário para agir no sentido do Bem público. 

Dessa forma, o desenvolvimento das qualidades e das inclinações da alma de cada um dos cidadãos, conforme a sua natureza, corresponderiam às virtudes imprescindíveis para o exercício de cada função do Estado concebido por Platão como justo.